Gabi Goodwind é uma das grandes referências do kitesurf no Brasil e guia na nossa experiência de kitesurf no Nordeste. Vivendo intensamente o esporte, ela inspira pessoas com sua história de superação e dedicação. Nesta entrevista, Gabi compartilha sua trajetória, desafios e dicas para quem quer evoluir no kitesurf.
O que o kitesurf representa para você?
O kitesurf é um estilo de vida para mim. Tenho o privilégio de conciliar minha paixão pelo esporte com a possibilidade de ensinar e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas. Além disso, é também minha fonte de renda. Hoje, me sinto plenamente realizada como guia e instrutora. Ver a alegria nos olhos dos meus alunos quando aprendem e experimentam a liberdade do kitesurf é algo quase terapêutico. Durante um velejo ou um downwind, eles se desconectam do cotidiano e mergulham no presente. Depois de um dia no mar, saem com a mente renovada. O kitesurf está em tudo na minha vida: planejo viagens baseadas no esporte, acompanho a previsão do tempo diariamente e ele faz parte da minha rotina.
Como foi o seu início no kitesurf?
Comecei no kitesurf em 2014, em Jericoacoara. Na época, morava lá e aprendi com um amigo. Nunca imaginei que poderia me aventurar nesse esporte, pois sou de Campos do Jordão, das montanhas, e o mar era algo distante da minha realidade. Sempre gostei de praia, calor e vento, e quando aprendi a velejar, me descobri. No entanto, o início não foi fácil. Cheguei a desistir, pois não sentia conexão com o mar. O controle da pipa e da prancha exige coordenação, técnica e paciência. Passei um ano sem praticar, até que um amigo me incentivou a tentar novamente, e desde então, nunca mais parei. Morava em Jeri, trabalhava no Preá e, após o expediente, pegava meu kite e velejava de volta para casa. O esporte se tornou meu meio de transporte e minha paixão. Decidi viver do kitesurf, fiz um curso de assistente de instrutor e comecei a ensinar. Com o tempo, meus alunos demonstraram interesse por desafios maiores, como os downwinds, percorrendo 60, 80 e até 100 km por dia. Isso me trouxe uma felicidade imensa.
Como você se preparou para conquistar o Rali dos Sertões?
Minha estratégia foi essencialmente mental. Desde o início, acreditei que conseguiria superar esse desafio, mesmo sendo um dos mais difíceis do kitesurf, com percursos diários de até 100 km entre upwinds e downwinds. Para isso, é necessário manter uma velocidade média de pelo menos 30 km/h. O maior obstáculo não é a velocidade, mas a confiança. Se a mente não estiver forte, o preparo físico e o treinamento não serão suficientes. Trabalhei intensamente minha mentalidade para me manter focada e determinada.
Você segue uma alimentação especial para as competições?
Minha alimentação é equilibrada e constante, independentemente das competições. Não utilizo suplementos, exceto whey protein quando não consigo atingir a quantidade necessária de proteína, pois não consumo carne. Diariamente, tomo creatina e magnésio, além de manter uma dieta rica em sucos naturais, água, verduras, saladas e legumes. Também pratico musculação todos os dias, priorizando repetições altas e pesos moderados, como parte do meu estilo de vida.
Quais são as principais técnicas para evoluir no kitesurf?
A chave para a evolução é dedicação e tempo na água. Praticar constantemente, testar novas técnicas e contar com o suporte de um profissional fazem toda a diferença.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no kitesurf?
O maior desafio foi começar a dar aulas. Na época, havia poucas mulheres no esporte, mas elas foram minha inspiração. Enfrentei dúvidas e preconceitos, ouvir que seria difícil por ser mulher e por não ter experiência no mar. Muitas vezes me questionei se conseguiria, pois não havia muito incentivo ao meu redor. Mas persisti, e hoje sou muito grata por não ter desistido.
Qual é a melhor época para velejar no Nordeste?
De julho a janeiro, durante a temporada dos ventos. No Nordeste, temos basicamente duas estações: inverno (fevereiro a maio) e verão (junho a dezembro). A partir de junho, as chuvas diminuem e o vento se torna constante, tornando-se a melhor época para kite trips. O vento estável é essencial para a segurança e o sucesso dos velejadores.
Quem são suas maiores inspirações?
Minha família: minha mãe, meu pai e minha irmã. Eles são meu alicerce, sempre me apoiam e celebram minhas conquistas. As competições são emocionantes, e estar em um rali com mais de 100 competidores é indescritível. Ter o apoio deles faz toda a diferença.
Que conselho você daria para quem quer aprimorar no kitesurf?
Persistência e dedicação são fundamentais. O maior desafio é mental, pois muitas vezes nos sabotamos acreditando que não somos capazes. Confie no seu potencial, independentemente do tempo que levar para evoluir. O importante é construir uma mentalidade forte para atingir seus objetivos no esporte e na vida.
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